AFASTA-TE DE MIM, SATANÁS!
Florentino UlibarriNão.
Não estamos acostumados,
nestes tempos que correm,
a uma linguagem tão directa,
tão clara e dura,
tão surpreendente e escandalosa,
tão incorrecta
política, social e culturalmente,
tão pouco evangélica segundo os cânones prescritos...
E não sabemos como reagir!
Não.
Não estamos acostumados
a ouvir a tua voz apaixonada,
profundamente ferida
quando procuramos desviar-te do caminho
da tua própria identidade,
essa que te faz ser Filho
e Messias para os teus irmãos.
Ficamos sobressaltados
e procuramos deixá-la no esquecimento.
Não.
Não estamos acostumados.
E, embora procuremos passar ao lado,
o seu eco ressoa dentro e fora
com a força do vento
arrastando as nossas ambíguas
construções, palavras e declarações;
pois a fé que tu pedes
é outra coisa diferente:
fé sem justificações.
Não.
Não estamos acostumados
a dizer nitidamente com a voz e o coração: sim, não;
ou a chamar pão ao pão
e ao vinho, vinho...
sem ambíguas misturas
que defendem o «vale tudo»
porque não se pode ferir vontades
nem liberdades de ninguém.
E assim continuamos, embora nos custe reconhecê-lo!
Não.
Não estamos acostumados
a escutar o eco da tua voz,
aquela que dirigiste a Pedro
e foi escutada pelos restantes discípulos
com assombro e desconcerto:
«Afasta-te de mim, Satanás!
Tu não vês as coisas como Deus as vê».
E contudo, foi isso que salvou Pedro
e os tornou mais amigos.
Não.
Não estamos acostumados...
E assim continuamos!
Florentino Ulibarri
Traducción de Marcelino Paulo Ferreira