Vamos compartilhar

os abraços e beijos que surgem neste instante,

as alegrias tidas no caminho,

esta natureza livre e exuberante

e os latidos do nosso coração ferido.

Vamos compartilhar

o pouco que temos compreendido,

a exígua luz que nos alcança e não retemos,

os intentos falidos para sair do labirinto

e os medos acumulados de todos os tempos.

Vamos compartilhar

os rascunhos dos nossos projectos não realizados,

o clamor dos gritos e do silêncio,

os balbuciamentos e suspiros mais íntimos

e os suores do nosso corpo.

Vamos compartilhar

a palavra que nasce das entranhas,

a que nos chega de cima como geada,

a que nos surge de nascentes incertas

e a que nos alcança e pede para ser derramada.

Vamos compartilhar

a tolerância e a radicalidade

do teu evangelho e da tua proposta

esquecendo-nos dos nossos dogmas

para entrar na tua casa solarenga.

Vamos compartilhar

o tempo dos poemas e das canções,

da dança e da palavra sagrada;

a sabedoria dos anos acumulados

e os lamentos que nos ficam da infância.

Vamos compartilhar

os ensinamentos do espaço fraterno,

o calor de um lar fecundo,

as redes do nosso trabalho em equipa

e os enredos de todos os nossos sonhos.

Vamos compartilhar

o que parecem loucas intuições,

as nossas poucas e inseguras verdades,

as rotas e quedas do começo

e as cabanas que nos protegem.

Nunca compartilhemos

últimas e definitivas palavras,

indícios de superior sabedoria,

argumentos sem experiência,

sentar cátedra ou verdades absolutas;

só a penumbra da fé e da ciência,

da caridade e da esperança,

da pobreza e da graça

da alegria e do sorriso humano.

E assim, Senhor, somos e nos vamos fazendo

filhos, irmãos, Igreja,

compartilhando-nos.