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JESUS APRENDEU COM JOÃO E DEPOIS SUPEROU-O

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Lc 3, 1-6

 

INTRODUÇÃO

As três figuras da liturgia de Advento são: João Batista, Isaías e Maria. A liturgia de hoje começa pelo primeiro. A importância deste personagem é reforçada pelo facto de haver, pelo menos, trezentos nos que não aparecia um profeta em Israel.

Lucas, ao narrar a concepção e o nascimento de João antes de dizer quase o mesmo de Jesus, manifesta o que este personagem significava para os cristãos da época. A ideia de precursor imediato é a chave de tudo o que nos dizem dele.

Os evangelistas destacam a figura de João, embora todos estão interessados em ressaltar a superioridade de Jesus. Percebe-se uma certa polémica nas primeiras comunidades, na hora de dar importância a João. Para os primeiros cristãos não foi fácil aceitar a influência do Batista na trajetória de Jesus. O facto de Jesus ir até João para ser batizado mostra-nos que Jesus levou muito a sério a figura de João, e que se sentiu atraído e impressionado pela sua mensagem. João teve uma influência muito grande na religiosidade da sua época. Relatos extra-bíblicos confirmam que, no momento do batismo de Jesus, ele era já muito famoso, enquanto que a Jesus ainda ninguém o conhecia.


CONTEXTO

É muito importante o começo do evangelho de hoje. Estamos no capítulo 3, e curiosamente fica esquecido tudo o que está para trás. Como se dissesse: agora começa de verdade o evangelho. Procura-se situar os acontecimentos numas coordenadas concretas de tempo e lugar, para deixar claro que os relatos não são inventados. Há que notar que o "lugar" não é Roma nem Jerusalém, mas o deserto. Também se quer mostrar que a salvação é dirigida a homens concretos de carne e osso, e que essa oferta implica, não só o povo judeu, mas toda a orbe conhecida: "todos verão a salvação de Deus".

Como bom profeta, João descobriu que para falar de uma nova salvação, nada melhor que recordar o anúncio do grande profeta Isaías. Ele anunciou uma autêntica libertação para o seu povo, precisamente quando estava mais oprimido no desterro e sem esperança de futuro. João procura preparar o povo para uma nova libertação, pregando uma mudança de atitude na relação com Deus e com os outros.

A mensagem de Jesus afasta-se em grande medida da de João. João prega um batismo de conversão, de metanoia, de penitência. Fala do juízo iminente de Deus, e da única maneira de escapar desse juízo: o batismo. Não prega um evangelho — boa notícia — mas a ira de Deus, da qual há que escapar.

Não é provável que tivesse consciência de ser o precursor, tal como o entenderam os cristãos. Fala do "que há de vir" mas refere-se ao juiz escatológico, na linha dos antigos profetas.

Jesus pelo contrário, prega uma "boa notícia". Deus é Abba, isto é, Pai-Mãe, que não ameaça nem condena nem castiga, simplesmente faz uma oferta de salvação total. Nada de negativo devemos temer de Deus. Tudo o que nos vem de Deus é positivo. Não é o temor, mas o amor que tem de nos levar até Ele.

Muitas vezes me tenho perguntado, e continuo a perguntar-me, por que é que, passados vinte séculos, nos encontramos mais próximos da pregação de João do que da de Jesus. Será que o Deus de Jesus se pode utilizar para meter medo e ter assim o povo dominado?

Há um aspeto da sua doutrina que coincide com a mensagem de Jesus. Critica duramente uma esperança baseada na pertença a um povo ou nas promessas feitas a Abraão, sem que essa pertença leve consigo compromisso algum. Para João, o reto comporta­mento pessoal é o único meio para escapar ao juízo de Deus. Por isso coincide com Jesus na crítica do ritualismo cultual e da observância puramente externa da Lei.


APLICAÇÃO

Ao ser humano oferecem-se hoje uma infinidade de caminhos pelos quais pode aperfeiçoar a sua existência. Qual será o que o leva à verdadeira salvação? Como dizia Paulo, mais do que nunca necessitamos hoje de crescer na sensibili­dade para apreciar os autênticos valores humanos. Precisamente porque as ofertas enganosas são mais variadas e muito mais atraentes do que nunca, é mais difícil acertar com o caminho adequado.

Deus não tem nem passado nem futuro; não pode "prometer" nada. Deus é a salvação que se dá a todos em cada instante. Alguns homens (profetas) experimentam essa salvação segundo as condições históricas que lhes é dado viver, e comunicam-na ao outros como promessa ou como realidade. A mesma e única salvação de Deus, chega a Abraão, a Moisés, a Isaías, a João e a Jesus, mas cada um vive-a e expressa-a segundo a espiritualidade do seu tempo.

No encontraremos a salvação que Deus quer hoje para nós, se nos limitamos a repetir o politicamente correto. Só a partir da experiência pessoal poderemos descobrir essa salvação. Quando pretendemos viver de experiências alheias, a força do prazer imediato acaba por destruir o plano. Na prática, é o que sucede à imensa maioria dos humanos. O hedonismo é a pauta: o mais cómodo, o mais fácil, o que menos custa, o que produz mais prazer imediato, é o que motiva a nossa vida.

Mais do que nunca, faz-nos falta uma crítica sincera da escala de valores na qual desenvolvemos a nossa existência. Digo sincera, porque não serve de nada admitir teoricamente a escala de Jesus e continuar a viver no mais absoluto hedonismo. Talvez seja este o mal da nossa religião, que se fica na pura teoria. Há algum tempo, um ministro do governo, falando dos problemas do norte de África, dizia muito sério: "É que para os muçulmanos, a religião é uma forma de vida". Parece que para os cristãos não.

Ao celebrar um novo Natal, podemos experimentar certa esquizofrenia. O que queremos celebrar é uma salvação que aponta para a superação do hedonismo, do prazer e do egoísmo. Mas o que vamos fazer na realidade é tentar que em nossa casa não falte nada neste Natal. Se não dispomos dos melhores manjares, se não podemos oferecer aos nossos seres queridos o que lhes apetece, não haverá festa. Desta maneira, sem darmos conta, caímos na armadilha do consumismo. Quando podemos satisfazer as nossas "necessidades" no supermercado, que necessidade temos de outra salvação?

Nas leituras bíblicas podemos descobrir uma experiência de salvação. Não quer dizer que tenhamos que esperar para nós a mesma salvação que eles desejaram. A experiên­cia é sempre intransferível. Se eles esperaram a salvação que necessitavam naquele momento determinado, nós temos que encontrar a salvação que necessitamos hoje. Não esperando que nos venha de fora, mas descobrindo que está no fundo do nosso ser e temos capacidade para trazê-la à superfície. Deus salva sempre. Cristo está a vir.

O ser humano não pode, de uma vez por todas, planificar a sua salvação traçando um caminho claro e direto que o leve à plenitude. A sua capacidade é limitada. Só apalpando pode conhecer o que é bom para ele. Ninguém pode dispensar-se da obrigação de continuar à procura. Não só porque o exige o seu próprio progresso, mas porque é responsável pelo progresso dos outros. Não se trata de impor a ninguém as próprias descobertas, mas de propor novas metas para todos. Deus vem a nós sempre como nova salvação. Nenhuma das salvações anunciadas pelos profetas pode esgotar a oferta de Deus.

É importante a referência à justiça, que faz por duas vezes Baruc (Bar 5,1-9) e também Paulo (Flp 1,4-11), como caminho para a paz. O conceito que nós temos de justiça é o romano, que era a restituição segundo a lei de um equilíbrio rompido. O conceito bíblico de justiça é muito distinto. Trata-se de dar a cada um o que espera, segundo o amor.

Normalmente, a paz que procuramos é a imposição dos nossos critérios, seja com astúcia, seja pela força. Enquanto continuarem as injustiças, a paz será uma quimera inalcançável.

 

Meditação-contemplação

 

O profeta é uma pessoa que descobre algo importante para a sua vida,

e que o comunica aos outros para que também o vivam.

Não se trata de um conhecimento intelectual, seria um mestre.

Trata-se de uma descoberta do que É.

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Procura recordar os "profetas" que te ajudaram nesse caminho até ao teu ser.

Pensa não só nos "grandes" mas nos pequenos, mas próximos.

Sente-te agradecido para com todos eles.

Pensa agora se tens descoberto em ti mesmo algo interessante.

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O que viveu-experimentou Jesus,

tornou livres muitíssimas pessoas.

Está a ajudar-te a alcançar a liberdade?

Esse é o primeiro objetivo da tua existência.

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Fray Marcos

Traducción de Marcelino Paulo Ferreira

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