VIDA VERDADEIRA
Florentino UlibarriVIDA VERDADEIRA
Aqui estou, Senhor,
com fome e sede de vida.
Sonhando que me preparo bem,
acreditando que sei viver,
consumo febrilmente
ligeiros prazeres,
não mais do que guloseimas,
precárias sensações
granjeadas aqui e além...
E a minha fome e sede não desaparecem.
Isto já não é vida mas simulacro,
uma vida sem qualidade de vida.
Aqui estou, Senhor,
com fome e sede de vida.
Mas acostumado ao refinado e elaborado,
o autêntico só entra com filtros.
Demasiado educado para ser blasfemo.
Demasiado tradicional para ir mais além do legal.
Demasiado cauteloso para saborear triunfos.
Demasiado razoável para correr riscos.
Demasiado acomodado para começar de novo...
E a minha fome e sede não desaparecem.
Isto já não é vida mas simulacro,
uma vida sem qualidade de vida.
Aqui estou, Senhor,
com fome e sede de vida.
Mas sem te pedir muito, para não desacorrentar a tua ousadia;
amando só aos bocados, para não criar laços;
rebaixando o teu evangelho, para o tornar digerível;
sonhando utopias sem realidade;
caminhado atrás das tuas pegadas sem romper laços anteriores...
E a minha fome e sede não desaparecem.
Isto já não é vida mas simulacro,
uma vida sem qualidade de vida.
Não faças caso, Senhor,
dos nossos prejuízos,
tristes saberes
murmurações
e desencontros.
Umas vezes são estes ouvidos surdos,
outras, estas entranhas desertas,
às vezes esta cabeça oca
ou um coração interesseiro e não enamorado,
que monopolizam os nossos anseios e palavras.
Sibila, Senhor, a tua canção
oferecendo alimento e vida;
que se ouça por montes e colinas,
barrancos e pradarias.
Desperta-nos desta sesta.
Defendo-nos de tanta indolência.
Conduz-nos ao banquete da tua promessa.
Dá-nos vida verdadeira,
embora não ta peçamos
ou caminhemos por outra calçada.
Florentino Ulibarri
Traducción de Marcelino Paulo Ferreira